Como está Lisboa?!
Como está Miramar?!
Apetece-me ligar-te a perguntar pois imagino-te num destes dois locais.
O vento gelado do Inverno já não agita os ramos despidos de folhas de algumas das árvores, aqui, em Serralves.
Junto á margem do pequeno lago; na água, que é, toda ela, quase verde, à excepção de um pedaço, que está da cor do mercúrio; uma frota de patos, avança estoicamente, balançando-se como pequenos vasos de guerra, em minha direcção.
Olho!
Enfrento-os!
Dando a minha cara, o meu peito à ameaça que vem em minha direcção.
E quando, eles, já toldados pela adrenalina do ataque são surpreendidos com fragmentos de um molete, carcaça para muitos… Param a contenda…
Agora são eles que lutam entre si, por esse tesouro, mais valioso que o ouro, mais valioso do que o oiro…
Acabada a refrega entre eles, mostro-lhes a minha arma…
e…
Fotografo-os!!
É Primavera; e estou a sós, contigo aqui em Serralves. Caminhas a meu lado, invisível ao mundo que me acha louco por eu estar a falar, aparentemente só!
Olho uma folha e vejo nela a tua mão.
A tua mão fez-se grande, mas ao mesmo tempo é mais pequena do que a minha. A mão de uma mulher!
Lembras-te da tua mão, e, da metamorfose que o tempo e os factos da vida a fizeram passar?!
Em pequenina, ainda mais pequenina do que tens capacidade de te lembrar; a tua mão agarrou os dedos da tua mãe enquanto choravas, e, os dedos do teu pai enquanto ele te erguia para o mundo, compensando a falta de força das tuas perninhas…
Lembras-te da tua mão, que, acariciava o seio da tua mãe, enquanto a tua boca, sôfrega, o procurava?! Enquanto, e, com olhos cheios de amor ela te olhava, como um tesouro, que mais ninguém possuía, nem mesmo o teu pai….
Lembras-te da tua mão quando choraste daquela vez em que uma gota de leite mais quente nela caiu?! E a tua mãe se flagelou por tal coisa?!
Lembras-te da tua mão ao escrever a primeira letra?! Numa folha de papel que minutos mais tarde e apesar de molestada de várias maneiras e por um punhado de mãos, se tornou num objecto de arte para ser mostrada ao mundo, para que o mundo soubesse que naquele momento nascia uma artista ou uma doutora. Ops! Doutora com D grande!
Lembras-te da tua mão cheia de terra que alegremente metias na boca para gáudio de uns e absoluto terror de tua mãe e avó?!
Lembras-te da tua mão a acariciar o teu joelho do dói dói que ele tinha, aquando das quedas de bicicleta?!
Lembras-te da tua mão suada a tremer no momento do primeiro tocar na mão do ser amado?! Pensando que ele era um príncipe e tu a mais feliz das princesas…
Lembras-te da tua mão vezes sem conta, limpando as lágrimas?!
As tuas lágrimas?!
Lembras-te da tua mão ao dar-te prazer na tua primeira vez?!
Lembras-te da tua mão ao dar-lhe prazer na tua primeira vez!
Lembras-te da tua mão ao assinar o primeiro Bilhete de Identidade?!
O teu primeiro cheque?!
O teu primeiro contrato?!
A colocar o X no primeiro boletim de voto?
Ou, a escrever no vidro embaciado a palavra: - Amo-te!
Diz-me! Lembras-te?!
Lembras-te da tua mão a abrir o envelope do meu primeiro texto, carta, ou lá como lhe queiras chamar?!
Diz-me! Lembras-te?!
Nunca vi a tua mão, quer dizer, nunca a presenciei em nenhum destes factos; mas gostava de a ver desenhando no ar, um olá! Enquanto te aproximas de mim, com um sorriso meio contido por te lembrares destas palavras…
Gostava de senti-la na minha bochecha esquerda, enquanto beijas a direita e me dizes:
- Olá, tudo bem?!
É Primavera!
Os patos já navegam ao largo, e, a tua mão não toca nestas folhas de papel, que teimosamente teimo em escrever antes de passar as letras para o pc. Escrever com uma caneta pois esferográfica é para os novos…
A tua mão é linda!
É pois! Pois é tua!
P.S. Olha a tua mão! Imagina que a tua mão, era a única coisa que contava a tua história. Quais eram os teus sonhos? Quem te amou? Quem chora por ti, agora que morreste? Quem te escreve como eu? E que, ignoras! E bem!… Pois serei sempre um pequeno fragmento em ti, até que a minha mão deixe de escrever ou a tua mão, não me leia ou queira ler…