cansado fechei os olhos no sofá…
e no momento em que o sono ainda não é sonho, senti o hálito menta-canela, e…
acordei num grito sem fim, com o vento feito vendaval, na minha face…
abraçado a ti,
teu corpo colado ao meu, ou o meu colado ao teu, (para o caso não interessa), eu lutava para não cair…
queria parar mas não conseguia, gritava como um louco, enquanto o vento me secava a pele molhada pelo medo… esse autêntico soro da verdade…
em piruetas mil aproximava-mo-nos do chão…
firmei as minhas pernas na sela, fundi o meu peito em ti e respirei fundo…
maldito dragão com as suas ganas de às do voo… um Top Gun falhado…
ultrapassamos umas gotas de chuva, que gritavam com o susto, ficando para trás…
espera lá acho que conheço uma delas…
uma flecha veio ao nosso encontro…
uma seta em tua direcção,
enquanto eu me sinto cair no vazio…
ao menos caio abraçado a ti…
uma sombra sem fim, em forma de dragão, percorre o mundo…
voando por campos de musgo e de cetim…
a maldita seta atrás de nós…
será a de algum cupido?
penso,
por entre os soluços de medo…
talvez seja por isso que voamos tão depressa, tens medo que ela te toque…
o dragão é agora, fogo a queimar, fogo que sai pelas narinas… ar quente que nos envolve…
dois violinos surgem ao nosso lado, acompanhando-nos no planar que agora é sereno e suave…
ouço o som da chuva que ainda não caiu, o som das cascatas, e dos regatos… e as cordas dos violinos cantam para nós…
viras-te para mim, e, qual o meu espanto, planamos no ar, desta feita sem ser no dorso do dragão que afia as garras numa nuvem…
os violinos tocam, abraças-me e dançamos….
os campos cobertos de girassóis ondulam ao som de tão bela melodia…
única, forte, intensa, imensa, nossa…
arregalo os olhos, e vejo-te serena, e sinto pela primeira vez a música, que mais não é, que o o som dos nossos corações, nosso sangue nas veias, o pulsar do mundo…
enquanto mil girassóis dançam… lá volta a aparecer aquele arreliante arco-íris que outrora troçou de mim…
o sol pára, a lua surge, e os nossos corpos, sombras imobilizadas por uma estrela e por uma lua…
os violinos já não tocam… dançam,
os girassóis a uma só voz sussurram uma suave melodia,
o mundo sorri,
e eu; plasmado no firmamento sonho acordado no teu sonho…
descemos deste céu, onde me fazes e sou feliz…
meus pés tocam a areia branca da minha África…
as gotas de orvalho que prendiam as alças do teu vestido dissolveram-se na tua pele, e entras no mar…
eu refastelado, bebericando hidromel, comendo frutas, sinto-me o último rei…
uma concha pede-me ajuda para chegar ao mar, e gentilmente coloco-a no lombo de uma sardinha que foi buscar os seus filhos à escola… uma sardinha no Indico???
uma corsa loura, está a Flertar um jovem leão,
um escorpião faz juras de amor a uma cascavel…
e eis que surges do mar…
pudera eu pintar teu corpo, que faria arte…
tecida por deus…
esculpida pelo diabo na minha alma…
vens ao meu encontro…
paras junto a mim,
quero falar mas não consigo,
baixas-te,
teus lábios procuram os meus,
isto sim é que é sonhar!!!
- João!
- João! Meu filho.
- Acorda! Vá lá! Tens que ir trabalhar!
Mundo cruel!!